Existe relação entre o volume e o desempenho na meia maratona e na maratona, mas não há entre volume e lesões

Para analisar a relação entre volume de corrida e lesões em corredores amadores de ambos o sexos que completaram meia maratona e maratona, a pesquisadora holandesa Tryntsje Fokkema, com os seus colegas, aplicaram questionários para quase mil atletas que estavam participando em provas na Holanda (meia maratona da NN City Pier City Run em Haia ou da NN Marathon Rotterdam em 2017) sobre: lesões relacionadas à corrida (LRC), volume médio semanal de treinamento e corrida de resistência mais longa que fizeram como preparação.

Resumidamente a metodologia incluiu três questionário on-line, sendo duas semanas antes perguntado:

a) a lesão foi grave o suficiente para causar uma redução na distância, velocidade, duração ou frequência de corrida por pelo menos 1 semana;

b) a lesão levou à visita de um médico e/ou fisioterapeuta; e /ou

c) foi necessária medicação para reduzir os sintomas como resultado da lesão.

Responderam também sobre as características médias de treinamento no último mês, incluindo: o volume médio semanal de treinamento (km), a frequência (vezes por semana) e a duração (minutos).

Além disso, foram coletadas informações sobre a corrida de resistência mais longa antes do evento de corrida (km) e o ritmo médio de treinamento (minutos por km). 

Para os corredores de maratona, o volume semanal de treinamento foi categorizado em <40, 40‐65 e > 65 km e se a maior corrida de resistência ocorreu em <25, 25‐30, 30‐35 e > 35 km.

Para os corredores de meia maratona, o volume semanal de treinamento foi categorizado em <20, 20‐32 e > 32 km e se a maior resistência ocorreu em <15, 15‐21 e >21 km.

Os tempos de desempenho dos participantes (hora de término e intervalo de cada 5 km) foram fornecidos pela organização dos eventos de corrida. O declínio no ritmo durante o evento de corrida foi definido como a diferença percentual no intervalo entre 5‐10 e 15‐20 km para os corredores de meia maratona e a diferença percentual no intervalo entre 5‐10 e 35‐40 km nos corredores de maratona. 

Alguns resultados encontrados foram: no total, 556 corredores de meia maratona foram incluídos nas análises. Eles correram em média 29,9 (desvio padrão – DP – 19,4) km/semana, com um ritmo de treinamento de 5:45 (DP 0:45) minutos por km e uma corrida de resistência mais longa de 19,3 (DP 6,5) km, e terminaram sua corrida em média em 2:00:05 (DP 0:16:41) horas, com um declínio médio de 11,1% (DP 7,4). Um total de 268 corredores de meia maratona sofreu uma LRC (48,2%), dos quais a maioria estava localizada no joelho (13,5%).

Os 441 corredores de maratona incluídos tiveram um volume médio semanal de treinamento de 43,6 (DP 27,3) km, uma corrida de resistência mais longa de 29,1 (DP 8,5) km e um ritmo de treinamento de 5:41 (DP 0:44) minutos por km. Eles terminaram sua corrida em 4:17:54 (DP 0:37:14) horas, com uma queda de 25,0% (DP 15,4). No total, 243 (55,1%) maratonistas sofreram um novo LRC, maioria localizada no joelho (17,2%). 

Outros importantes achados mostraram que para aqueles corredores de meia maratona, que tinham um volume de treinamento de mais de 32 km/semana, uma corrida de resistência mais longa de mais de 21 km e um ritmo de treinamento de <5:15 min/km 2‐6 semanas antes da prova, o evento da prova de corrida foi associado a um tempo de finalização mais rápido, enquanto um ritmo de treinamento superior a 6:00 min/km foi associado a um tempo de finalização mais lento.

Além disso, um volume de treinamento de mais de 32 km/semana e uma corrida de resistência mais longa de 21 km foram associados a menos declínio no ritmo durante a corrida.

Nos corredores de maratona, um volume de treinamento <40 km / semana, uma corrida de resistência mais longa <25 km e um ritmo de treinamento de mais de 6:00 min/km foram associados a um tempo de finalização mais lento, enquanto um volume de treinamento de mais de acima de 65 km/semana e ritmo de treinamento <5:15 min/km foram associados a um tempo de finalização mais rápido. Não foram encontradas associações significativas entre as características do treinamento e o declínio do ritmo nos maratonistas.

Tanto na meia-maratona quanto nos corredores de maratona, nenhuma das variáveis de treinamento foi associada a novos LRCs. 

A conclusão foi que um alto volume semanal de treinamento, longas corridas de resistência e um rápido ritmo de treinamento são benéficos para o desempenho de meia maratona e maratona.

Para corredores de meia maratona, uma corrida de resistência de mais de 21 km pode ter um efeito positivo no tempo de chegada. Para uma maratona rápida, um volume alto de treinamento de pelo menos 40 km/semana parece importante.

No entanto, não parece necessário incluir uma corrida de resistência de mais de 35 km.

Tanto na meia maratona quanto nos corredores de maratona, o volume de treinamento e a distância da corrida de resistência mais longa não estavam relacionados ao risco de lesões.

Fokkema, T.; van Damme, A. A. D. N.; Fornerod, M. W. J.; de Vos, R. J.;  Bierma -Zeinstra, S. M. A.; van Middelkoop, M. Training for a (half-)marathon: Training volume and longest endurance run related to performance and running injuries. Scand J Med Sci Sports, 1–13, 2020. DOI: 10.1111/sms.13725

Analisando o artigo

As informações quantitativas que o artigo nos apresenta podem contribuir para o planejamento da temporada quanto ao volume de treinamento periodizado.

Devo considerar também que um ponto forte do estudo é que ele é o primeiro a investigar as relações do desempenho da (meia) maratona e das lesões relacionadas à corrida (LRC) com as características do treinamento. Antes disso, os trabalhos fizeram volume com desempenho, ou volume com lesões, de forma separada.

Além disso, o estudo incluiu uma grande amostra de meia maratona e corredores de maratona.

Sabemos que a opinião por meio de entrevista on-line pode causar distorções, mas o fato de o número de respostas ter sido grande e considerando que muitos corredores amadores hoje fazem os seus controles de treinos por meio de relógios e telefones celulares com total confiança, estando à mão em questão de segundos, os dados devem sim ser utilizados por profissionais da educação física e corredores amadores.

 

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